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Cannabis e Epilepsia

  • 19 de nov
  • 3 min de leitura
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A epilepsia, também chamada de crise convulsiva, acontece quando o cérebro “descarrega” sinais elétricos de forma descontrolada. É como se, por alguns segundos, tudo ficasse fora do ritmo normal. Isso pode acontecer por vários motivos: depois de um trauma na cabeça, por causa de um AVC isquêmico, infecções, tumores, alterações que a pessoa já nasce com, consequências de cirurgias ou até sem motivo aparente — quando o médico não consegue identificar a causa, chamamos de idiopática.

As crises podem aparecer de jeitos bem diferentes. Algumas pessoas têm aquelas convulsões mais conhecidas, com movimentos involuntários e fortes do corpo, rigidez nos braços e pernas, salivação intensa e até dificuldade para respirar. Outras têm crises mais discretas, como ficar parada olhando para o nada por alguns segundos, confusão mental ou um cansaço enorme após o episódio. Cada pessoa vive a epilepsia de um jeito, e por isso o tratamento precisa ser muito bem acompanhado.


Nos últimos anos, um dos assuntos que mais ganhou força quando falamos de epilepsia é o uso da cannabis medicinal. E isso não começou agora. Lá em 1980, o professor Elisaldo Carlini, uma das maiores referências brasileiras no tema, fez um estudo super importante no Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID). Primeiro, ele testou o CBD em camundongos. Depois, em oito adultos com epilepsia. Cada paciente recebeu 300 mg de CBD por dia durante quatro meses.


E o resultado impressionou: quatro pessoas pararam completamente de ter crises, três tiveram uma boa melhora e apenas uma não apresentou mudanças. Para a época, isso foi revolucionário e abriu portas para tudo o que veio depois.


Mais recentemente, o tema ganhou ainda mais força com estudos sobre crianças com epilepsia grave — aquelas que não melhoram mesmo usando vários medicamentos tradicionais. Um trabalho feito pelo Imperial College London, publicado na revista BMJ Paediatrics Open, acompanhou 10 crianças de 1 a 13 anos. Elas usavam, em média, sete remédios diferentes antes de começar o tratamento com o extrato de cannabis, que continha vários canabinoides, não só o CBD. A dose média foi de 171,8 mg de CBD e 5,15 mg de THC por dia.


Os pais relataram tudo aos pesquisadores por telefone ou vídeo, já que o estudo foi feito durante a pandemia. E os resultados foram muito positivos: depois de começar o extrato, a média de medicamentos caiu para apenas UM. E o mais impressionante: sete dessas crianças deixaram completamente todos os outros remédios. Isso mostra uma melhora real, não só nos números, mas na rotina dessas famílias.


Além da redução das crises, os pais também observaram várias outras melhorias no dia a dia dos filhos: dormir melhor, comer melhor, ficar mais calmos, mais atentos, com mais disposição e até com avanços cognitivos. Em outras palavras: a qualidade de vida das crianças aumentou muito.


Vale lembrar que os pesquisadores reconhecem que o estudo tem poucas crianças, e por isso ainda são necessárias pesquisas maiores. Mas, somando esse estudo a tantos outros que já foram feitos nos últimos anos, o que vemos é uma tendência clara: a cannabis, principalmente o CBD — e em alguns casos o extrato completo da planta — pode ajudar e muito no controle da epilepsia, especialmente quando os tratamentos tradicionais não funcionam bem.

Outra coisa importante é que os extratos de planta inteira parecem ter um efeito mais potente em alguns casos. Isso acontece por causa do chamado “efeito entourage”, que é quando os compostos da cannabis (como CBD, THC, CBN, terpenos etc.) agem juntos e potencializam o efeito um do outro. Ou seja, a planta funciona como um time — e às vezes esse trabalho em grupo dá resultados melhores do que usar só um composto isolado.


Por tudo isso, cada vez mais médicos no Brasil e no mundo estão estudando e prescrevendo cannabis medicinal para tratar epilepsia. É claro que o acompanhamento profissional é fundamental, porque as doses precisam ser adequadas, e cada organismo reage de um jeito. Mas o que já sabemos hoje é que, para muitas pessoas, a cannabis não só reduz as crises como também devolve qualidade de vida — algo que, para quem convive com epilepsia, faz toda a diferença.


Referências Bibliográficas  

 

 

 
 
 

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