Uso medicinal da Cannabis sativa como alternativa no tratamento da epilepsia
- 10 de set.
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Entre uma crise e outra, há uma espera angustiante. Para quem convive com a epilepsia, especialmente aquela que resiste aos tratamentos convencionais, cada dia sem convulsão é uma vitória, um respiro, um fio de esperança que se estende.
A epilepsia é caracterizada como uma disfunção cerebral, onde ocorrem crises convulsivas periódicas, que não podem ser previstas, onde acabam interferindo na qualidade de vida do indivíduo e de sua família. Apresenta modificações temporárias do comportamento, sendo causadas por meio do disparo desordenado, sincrônico e rítmico de diversos neurônios. Essas modificações podem ocorrer por meio de alterações encefálicas, as quais se manifestam de formas diferentes, dependendo das estruturas neuronais que estão envolvidas. Sua causa ainda é um desafio para os pesquisadores, mas o diagnóstico é simples e realizado a partir do histórico clínico do paciente, em que são verificadas as crises, podendo ser fracas ou fortes, com sinais de contrações de alguns músculos, apagamentos momentâneos, formigamento e em alguns casos, convulsões.
Segundo um estudo realizado pela Universidade de Stanford, em que foi realizada uma pesquisa em que um questionário de 24 perguntas foi apresentado a 150 pais, que apoiam o uso de cannabis enriquecida com canabidiol para tratar convulsões em seus filhos com epilepsia resistente ao tratamento, após quatro semanas, dezenove respostas perfizeram os critérios de inclusão, em que os dados do estudo foram coletados e hospedados na Research Electronic Data Capture (REDCap) e Stanford Center for Clinical Informatics, respectivamente.
A duração das administrações de cannabis enriquecida com canabidiol foi de mais ou menos um ano. Dezesseis pais relataram uma redução da frequência das convulsões de seus filhos, dois revelaram que seus filhos ficaram livre de convulsões após de pouco mais de quatro meses com o uso dessa cannabis, oito pais disseram que houve uma redução maior que 80% na frequência das crises, três relataram que obtiveram uma redução superior a 50% na frequência das crises, três disseram que houve uma redução superior a 25% na frequência dessas crises e três pais relataram nenhuma mudança na frequência, conforme o Gráfico 1. Doze pais conseguiram fazer o desmame de seus filhos em relação ao uso de drogas antiepiléticas.
Outros efeitos benéficos também foram apresentados pelos pais depois do uso dessa cannabis enriquecida, 79% relataram melhor humor, 74% aumento da atenção, 68% um melhor sono e 32% diminuição da autoestimulação. Quanto aos efeitos colaterais, somente 37% falaram de sonolência e 16% de fadiga.
Outro estudo elaborado pelo Dr. Orrin Devinsky, neurologista especializado no tratamento de epilepsia e diretor do Comprehensive Epilepsy Center; na New York University School of Medicine, autorizado pela Federal Drug Administration (FDA), dirigiu um estudo aberto com o Epidiolex, cujo fármaco tem 98% de CBD. Essa pesquisa foi realizada com 23 pacientes, com idade de 10 anos e com uma dose diária sendo aos poucos aumentada até 25 mg/kg/dia e associada com os medicamentos antiepiléticos já utilizados pelos pacientes.
A contribuição mais relevante deste estudo está em oferecer uma síntese crítica sobre o estado atual do conhecimento científico acerca do uso do canabidiolcomo terapia adjuvante no manejo das convulsões, promovendo reflexões tanto para a prática clínica quanto para a formulação de políticas públicas em saúde.
Referências
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